Catedral de Brasília é iluminada com as cores da Bandeira de Ruanda em respeito ao Kwibuka 31


Kwibuka 31: Memória, Justiça e Reconciliação — Uma reflexão sobre o genocídio contra os tutsi em Ruanda e a importância da memória


Em 2025, o mundo relembra com pesar e profunda reflexão os 31 anos do genocídio contra os tutsi em Ruanda, uma das tragédias mais brutais do século XX. O termo Kwibuka, que significa “lembrar” em kinyarwanda, é o nome dado à série de eventos anuais que visam honrar a memória das mais de 1 milhão de vítimas assassinadas durante os cem dias de horror, entre abril e julho de 1994.

“Kwibuka 31” carrega, assim, não apenas o peso da memória, mas também um chamado urgente para a ação, a educação e a promoção da paz duradoura.


A cerimônia que ocorre no Plenário Camara Legislativa do Distrito Federal, Sessão Solene Presidida pela Deputada Distrital Dra. Jane e a Embaixada de Ruanda em Brasília, faz parte desse esforço global de manter viva a lembrança do genocídio e reforçar o compromisso da comunidade internacional com a prevenção de atrocidades futuras.



Trata-se de um evento carregado de simbolismo, que reúne diplomatas, acadêmicos, sobreviventes e representantes do governo brasileiro para refletir sobre o legado do genocídio e as lições que ele impõe a toda a humanidade.

Os antecedentes do genocídio: raízes coloniais e divisões fabricadas

Para compreender a gravidade do genocídio de 1994, é fundamental olhar para sua gênese histórica. Durante o período colonial, administradores alemães e, posteriormente, belgas, implementaram uma política de divisão étnica em Ruanda, categorizando a população majoritariamente hutu, tutsi e twa.

Embora essas distinções tivessem origens fluidas e baseadas, em parte, em critérios socioeconômicos, os colonizadores cristalizaram essas identidades e as usaram como instrumento de controle.

Ao longo do século XX, essas divisões foram aprofundadas por políticas discriminatórias e violência esporádica, alimentadas por ressentimentos acumulados e discursos de ódio. A assinatura dos acordos de paz de Arusha, em 1993, trouxe uma breve esperança de reconciliação, mas foi rapidamente desfeita pelo assassinato do então presidente Juvénal Habyarimana, em 7 de abril de 1994 — um evento que desencadeou o genocídio sistemático dos tutsi e de hutus moderados.

A cerimônia em Brasília: um ato de memória e responsabilidade

Durante a solenidade em Brasília, a ordem dos pronunciamentos reflete o compromisso com uma abordagem multifacetada da memória e da prevenção. A abertura com o sobrevivente Dady de Maximo, que compartilha uma mensagem de fé e conduz um minuto de silêncio, oferece uma conexão direta e emocional com as experiências vividas durante o genocídio. Sua fala é um lembrete visceral do impacto humano da violência extrema e da resiliência dos sobreviventes.



O pesquisador independente Tom Ndahiro, por sua vez, reforça a necessidade de combater a negação do genocídio, um dos principais desafios enfrentados por Ruanda e pela comunidade internacional atualmente. Negacionismo e revisionismo histórico não apenas desrespeitam a memória das vítimas, como também criam terreno fértil para futuras atrocidades.



O professor Zachary Kaufman aprofunda o debate ao discutir o papel da verdade e da responsabilização na prevenção de genocídios. Seu tema, “Reformulando o eufemismo de ‘Nunca Mais’”, evidencia que as promessas feitas pela comunidade internacional após genocídios anteriores, como o do Holocausto, frequentemente não se concretizam de maneira efetiva.



A presença do Ministro Antonio Augusto Martins Cesar, representando o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, e do Embaixador Lawrence Manzi, chefe da missão diplomática de Ruanda no Brasil, simboliza a importância da cooperação internacional na luta contra a impunidade e na promoção de uma cultura global de paz e respeito aos direitos humanos.

O papel da Embaixada de Ruanda no Brasil

A Embaixada de Ruanda em Brasília tem desempenhado um papel crucial na promoção da memória e na aproximação entre Ruanda e o Brasil. Por meio de eventos como o Kwibuka 31, a missão diplomática ruandesa busca não apenas homenagear as vítimas, mas também compartilhar as lições aprendidas com a reconstrução do país.

Ruanda é hoje reconhecida por sua impressionante trajetória de recuperação, marcada por processos de reconciliação nacional, tribunais Gacaca, políticas de desenvolvimento inclusivo e fortalecimento das instituições. A embaixada atua como ponte entre os povos, incentivando o intercâmbio cultural e educacional, promovendo o diálogo sobre prevenção de genocídios e disseminando os valores de resiliência que marcam a sociedade ruandesa contemporânea.

Kwibuka 31: lembrança como compromisso com o futuro

Em um mundo onde as ameaças de extremismo, ódio étnico e desinformação permanecem presentes, cerimônias como o Kwibuka 31 reafirmam a importância de cultivar a memória coletiva e de manter a vigilância contra as sementes do genocídio. A reflexão não se limita ao passado, mas se projeta para o futuro, como um apelo contínuo à construção de sociedades baseadas na justiça, na verdade e na dignidade humana.

O genocídio contra os tutsi em Ruanda foi uma tragédia que abalou as consciências globais. Mas a história ruandesa, marcada também por notável reconstrução e esperança, inspira o mundo a jamais esquecer e a agir sempre que a humanidade estiver em risco. A presença de vozes como a de Dady de Maximo, de estudiosos como Tom Ndahiro e Zachary Kaufman, e de representantes diplomáticos, é um lembrete de que lembrar é um ato de resistência e que o futuro depende das escolhas que fazemos hoje.

Catedral de Brasília

A catedral de Brasília foi iluminada na noite do dia 07 de abril, com as cores da Bandeira de Ruanda em respeito ao genocídio.

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